sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AQUILO QUE OS ALUNOS JÁ SABEM

RESENHA:
Em 1999 a lingüista Maria Cristina Cunha e o pesquisador em ensino de Ciências escreveram o livro intitulado Didática de Ciências: o ensino-aprendizagem como investigação (São Paulo: FTD) que versa sobre orientações para a prática doscente destinada a futuros professores de ensino de ciências a partir da apresentação de problemas, estratégias, perspectivas relacionados a prática pedagógica.
O Capítulo resenhado é intitulado: “Aquilo que os alunos já sabem”, nesse texto os autores apresentam a importância na atenção específica do professor quanto ao conhecimento (na maioria dos casos não científicos) que o estudante já possui a cerca do conteúdo explorado em sala de aula como um fator que deve ser considerado e investigado no sentido de propor estratégias que atuem de forma eficaz para aprendizagem dos estudantes via modificação de concepções prévias (conhecimento que o estudante possui antes da aula lecionada a cerca de um tema).
 Figura 01: O professor aluno.
Fonte: Repositório de imagem do Google.

Como modelo, os autores utilizaram o questionamento sobre o formato da terra como um tema que os alunos frequentemente constroem uma concepção prévia (conhecimento alternativo) a partir de informações verificadas anteriormente à aula. O capítulo é dividido em seções que tratam sobre o tema em aspectos e visões diferentes apresentando-se resultados de artigos sobre o tema, conceitos, estratégias e problemáticas empiricamente verificadas em sala de aula por estudantes e professores.
Inicialmente os autores conduzem uma discussão sobre a importância do conhecimento sobre o formato da terra para estudantes dentro da perspectiva de que isso é considerado como senso comum, mas é utilizado como premissa para outros raciocínios mais complexos como a explicação do dia e noite, como a posição do sol muda no decorrer do dia, a terra girar em torno do seu eixo e etc. Dessa forma, esse conhecimento é conhecido de alguma forma (conhecimento alternativo construído pelas experiências pessoas de cada indivíduo) e possui grande importância para compreender outros eventos e processos e, sendo assim, deve ser observado com atenção pelos professores, bem como outros conteúdos que se enquadrem em um perfil semelhante.
Além disso, alguns resultados de Nussbaum, 1989 sobre entrevistas e dados levantados sobre essa questão em crianças. Esse autor propôs perguntas indiretas para verificar a compreensão de crianças (8 a 12 anos) sobre o formato da terra, além disse as crianças deviam produzir desenhos para representar o formato da terra. Esse autor observou uma série de concepções alternativas da realidade produzidas por crianças, cabendo destacar que foram verificadas diversas concepções alternativas ou as concepções formuladas pelos estudantes antes ou durante o ensino formal que diferem do conhecimento científico. Isso denota que as concepções alternativas depende da forma como as idéias são organizadas por cada indivíduo,ou seja, a interação dos indivíduos com o conhecimento é única para cada estudante e essa condição leva a formação de uma grande diversidade de concepções alternativas diferentes que devem ser verificadas pelo professor a fim de serem utilizadas para a construção de instrumentos que atuem eficazmente para a aprendizagem dos conceitos científicos.
 Vídeo 01: Os movimentos da Terra.

Dentro desse contexto, os autores também destacam que muitas pessoas após o ensino informal não são capazes de definir conceitos aparentemente simples ou discorrer sobre eventos devido à formulação de concepções alternativas e a não atenção dos professores para esse fato. Sendo assim, os autores recomendam aos professores que atuem de forma a verificar essas concepções alternativas. Os procedimentos que devem ser adotados incluem a formulação de questionários ou entrevistas que não levam em consideração pontuação em nota e os professores devem buscar a problematização em detrimento a perguntas de pergunta diretas (que de certa forma podem ser intimidadoras) que promovem respostas que não possibilitam ao professor observar o conhecimento prévio dos estudantes e não devem desprezar o conhecimento prévio dos estudantes como uma concepção totalmente errada da realidade. Segundo os autores ao verificar o conhecimento prévio dos estudantes é possível assumir como estratégia o conflito cognitivo.
O conflito cognitivo consiste na argumentação feita pelo professor ao aluno quanto à coerência do conhecimento prévio. A concepção alternativa dos estudantes se consolida em lógicas internas que não são coerentes com a realidade sobre alguma visão, assim é papel do docente explicitar esse embate de significados a partir de um conflito cognitivo. As ciências da natureza buscam compreender a realidade, portanto o conflito cognitivo é uma forma de expor as incongruências presentes em certas concepções alternativas. A contraposição realizada pelo conflito cognitivo gera a percepção por parte dos estudantes na falha das suas concepções para explicar a realidade, e isso pode ser considerado como um ponto de partida para a construção do conhecimento que é ideal quando se unem a concepção alternativa e o conhecimento científico de forma que o estudante passe a explicar à realidade a luz do conhecimento científico.
O texto do capítulo apresentado é uma fonte interessante de sobre o conhecimento prévio e a importância da sua verificação por professores. Além disso, explicita uma estratégia que pode ser considerada eficaz para a utilização da concepção alternativa como um fator favorável à aprendizagem (conflito cognitivo). A utilização do formato da terra como modelo é muito funcional para explicitar a negligência de alguns professores sobre o conhecimento prévio e como isso reflete em resultados negativos para o prosseguimento da vida acadêmica dos estudantes e compreensão da realidade do mundo. Dessa forma, o capítulo como referencial teórico deve ser recomendado como leitura complementar a estudantes de licenciatura da área de ciências da natureza considerando-se a perspectiva do texto, forma de organização e linguagem.
Os autores do livro Maria Cristina da Cunha Pereira e Rogério Gonçalves Nigro possuem perfil diferente de formação, mas que são adequados para a tanto. Maria Cristina da Cunha Pereira possui mestrado em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1977) e doutorado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1990). Atualmente é professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e lingüista da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação, da PUCSP. Essa autora atua principalmente na área de educação para surdos e possui uma extensa produção bibliográfica no tema. O segundo autor, Rogério Gonçalves Nigro é doutor em ensino de Ciências e Matemática pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e mestre em Biologia pelo Instituto de Biociências dessa mesma universidade. Foi graduado em ciência biológicas atua principalmente na à pesquisa acadêmica e ao ensino de ciências para crianças, desde a educação infantil até o 9º ano do ensino fundamental. Desde então tem escrito livros paradidáticos, didáticos, artigos em revistas de divulgação científica e participado de projetos de ensino a distância.

Sergio Lucas da Rocha Cunha
Graduando em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Amazonas